sábado, 7 de dezembro de 2019

Auteridade

E se você de repente descobrisse que nunca mais ouvir a voz dela?
E se você de repente soubesse que nunca mais vai encontrá-la?
E se você soubesse que nunca mais vais sentir outra pele que te dê "aquele" choque?
E se aquela "sensação" que você ignorou na realidade significasse exatamente o que você estava pensando?
E se você nunca mais encontrasse outro alguém tão bom assim como ela?
E se isso fosse só um lapso no tempo que trouxesse uma sensação de sentido de volta a sua existência
O que você faria?
Se no fim, você descobrisse que esse sentir todo aí fosse total e absolutamente SEU?

sexta-feira, 29 de março de 2019

O 7 das Artes

Os músicos acham que eu sou a Sony
Os bailarinos, o Municipal
Os pintores, o Louvre
Os escultores, a Pinacoteca
Os escritores, a ABL
Os atores, a Globo
E os cineastas, Hollywood
Acontece que eu não sou aquilo que acham que eu posso oferecer, eu não sou aquilo que se quer, ou que se almeja conseguir, eu não sou motivo do seu prazer, seu troféu, estátua parada a esperar o seu destino, pegando pó e desbotando na estante. Eu não sou as possibilidades distantes, a fonte dos encantos, eu não sou nada disso. Então, não pense que eu possa ser um mar inesgotável de querer.
Pois para ti que acha que eu vou te comprar, eu sou a música e livre como ela eu vibro, balanço o ar entre intervalos de silêncio, eu inspiro quando saio lavada das águas choradas nos rios dos meus sentimentos, não tenho notas em cofres para te dar.
Para ti, que acha que eu vou te selecionar, sem terdes de esticar suas pernas e dar pulos em Grands Jetés, saiba que eu nem entendo muito de francês, para mim basta o andar molengo de uma tarde de sol em um sábado preguiçoso, ritmado nos passos dos meus pensamentos.
Tu que achas que podes chegar e pendurar suas telas na minha casa, pedir pra ficar, se esparramar no sofá, instalar suas barbas, jogar suas meias, deixar aquela “obra” na sala de estar, já aviso: minha casa é templo e não museu, todas as coisas aqui respiram presente e harmonia de bem com-viver.
Você, que quer me esculpir a sua bel vontade, arrancar a minha costela, alisar as minhas pernas, aplainar meu Eu Selvagem, saiba que da minha estrutura cuido eu e que não, não sobra espaço para o seu formão.
À ti, que queres tanto que te faça poesias, que te crie em versos, prosas e rimas, que te ceda redondilhos carregados de paixão entre tantos outros arroubos literários de amor pela tua criação, como pensas que ainda terei inspiração se não és capaz de me oferecer, nem um haikai em um papel de pão?
E agora tu, que me mente nos dias úteis e me ilude aos finais de semana... Que finge um profundo amor repleto de desejo, drama, sofrimento e encenação. Como esperas que essa sua novela, parca e singela, brote de seus olhos e perfure a tela do meu calejado coração?
Por fim, você que me filma e não diz nada, que dirige a cena por de trás de seu olhar blasé, que te incomoda ver meu braço mais caído para o lado errado, que deseja controlar tudo do outro lado do mundo, pela tela do seu computador. Para ti, querido, sendo bem real, eu nem sequer existo, logo, desisto de seu amor, que não valeria nem ao menos um Kikito.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Madrugada Solidão

É madrugada no meu coração
Nenhum amigo, nenhum amor
Somente o vento balança meus cabelos
Nem mesmo a lua chegou
Para eriçar meus pelos
Sobraram lembranças
Desmanchando como as cinzas
Dos turíbulos das mesquitas
Esvoaçando pelos prados
Nessa noite sem luar
É madrugada em meu coração
Nenhum amigo, nenhum amor
O novo ciclo celebra o ditador
E eu fugi, fugi para o meu interior
Saí das ilhas e de suas magias
Larguei as ondas para quem tivesse mais tempo
De se iludir em seus tormentos
De reis nus, bruxas cegas e cavalos mancos
Nenhum amigo, nenhum amor
A madrugada me traz seu frescor
Em meu coração reflete o céu de trilhões de estrelas
Cobertor para meus sonhos de criança
Deito-me finalmente sob as bênçãos
Do Deus dos pagãos














sexta-feira, 8 de março de 2019

Conto Magia Para o Nosso Sonho se Realizar

            - Oi!!! Oieee....
                (acena)
- Ei! Moço... olha aqui! Olha pra mim! Sou eu! ... Como assim você não sabe quem é? Você está aí me chamando há vinte anos, no mínimo, e agora não sabe quem eu sou? Eu sou a moça das suas canções, seus poemas, suas escritas, sua arte, aquilo tudo... aquilo tudo que tu tens sonhado. Ahn?! ... Ah tá... eu sei que tu achas fizestes uma canção pra Maria, outra pra Berenice, a outra pra Luzia, muitas muitas muitas canções para Giulia, mas ó, deixa eu te contar... tu não estavas apaixonado por elas quando as compôs? Então... explicando assim de maneira sucinta - abaixa o tom e cochicha perto do ouvido -: a gente sempre se apaixona pela gente mesmo, chama-se projeção, é verdade... o Siguiomundo quem descobriu isso. Sério! – balança a cabeça afirmativamente - Sério mesmo! Você é profundamente apaixonado por si mesmo, se chama arrogância isso, é por isso que a gente sempre tem uma certa timidez de escanteio, ainda que a gente disfarce ou tente disfarçar com a nossa aparente e descontraída irreverência.
-....
- Como que é possível você ter feito tudo pra mim se você às fez todas pra ti? Ahhh é... esqueci de explicar essa parte, desculpe! Primeiramente prazer - estende a mão -, eu sou você, quer dizer... eu sou você mulher. Tá, eu sei que é estranho mas é assim...
- ....
- Nááááá... nada a ver, alma gêmea, pfff... hahahah. Não é isso não, hahahaha. Alma gêmea é outra coisa, aliás, esse negocio de ‘carne e unha, as metades das laranjas, duas forças que se abraçam, dois amantes dois irmãos’ isso nem existe. Eu quero dizer que eu sou Você, eu sou você mesmo. Prazer... Eu Mesmo!
- *@#$%¨&
- Ai, credo, que horror!!! Calma! Não, não estou debochando de ti. Estou te falando que o seu sonho está aqui ó: na sua frente – acena – e que para ele acontecer, de fato... hum... você vai precisar sair daí...
- :’(
         - É... levanta do piano! Vem, enxuga as lágrimas... mas só enxuga quando tiver esgotado toda a vontade de chorar mesmo! Olhe menos pra baixo, seus ombros tem andado muito caídos porque olhas muito pro umbigo – ajeita o queixo – Não, também não levante tanto assim, não fique empertigado como um pássaro no cio – ri como uma garotinha – se ficar assim antes de aprender a voar vai tropeçar, cair e trombar com tudo que estiver pela frente. Olhe para frente, para os lados e mexa só o pescoço quando por acaso precisar olhar algo no chão ou no céu, assim poupará as suas costas de dores. Pronto! Está lindo assim: vês?! Eu não sou exatamente igual você se imagina caso fosse mulher?!: um pouco mais baixa, mas nem tanto, um pouco mais extrovertida por um lado e mais reservada por outro, a cor e o tamanho dos olhos, os cabelos iguais aos de sua avó, os dedos compridos de pianista, o corpo alongado, o jeito de se vestir e o tom de voz que você não alcança – risinhos abafados – os seios fartos, os quadris largos, o corpo de gestar, venha cá, abrace-me, abrace-se. Sente? Eu também estou do lado de dentro, percebe? Eu te acalento, dou colo, faço uma comida boa, te nutro, dou risada das suas piadas mais bobas, dou esperança de dias melhores quando o chão parece desabar, faço um chá de ervas frescas e sou macio travesseiro de repouso quando a sua cabeça parece não mais aguentar, seguro suas mãos nos dias de frio. Tu, não me sentes, mas eu estou aí, sempre estive, tu me imagina muito nos outros, sempre em outros tão tão distantes, outros dos horizontes perdidos. Daí, quando distraído estás, eu apareço com um trio elétrico, na sua frente, gritando pelos alto falantes minha poesia visceral. Te amas? Só me amas se te amas. Queres que eu saia dos seus pensamentos? Quer que eu volte de Xangrilá, do Butão ou da Sibéria? Então precisas me chamar, me convide para um chá, sirva-me iguarias de seu coração: as poesias de mansidão, livres do já fatigado dramalhão. Até agora eu escrevi, você não leu... eu falei, você não ouviu... eu cantei, você nem percebeu. Agora eu me despeço, volto com o chamado, no reencontro com seu sorriso. Deixo essa magia, para que nosso sonho não se perca em avisos, gritados pelo alto-falante, do carro da padaria.



sábado, 2 de fevereiro de 2019

Mais daquelas coisas que poderiam ter sido e... Não deu!

Mais uma para Elias...

           Se serve de consolo, eu já meio que me apaixonei por um professor universitário, mais velho... e todas essas coisas de platonismos. Digo "meio que" porque à época que isso aconteceu eu já tinha adquirido um bom controle sobre isso de sentimentos apegados ao umbigo.
           Nos conhecemos em um bar de Santo Antônio, no show de uma amiga em comum, ele pediu para sentar-se em nossa mesa e também tivemos uma conversa infindável cheia de pontos em comum e sincronias de olhares, e ele com aquele par de burícas azul celeste a olhar... olhar... olhar... a profundidade de minh'alma.
           Ele, professor universitário, música... eu, universitária... antropologia. Ele de mudança em uma semana... eu, em estância.
           Passou foi é tanta coisa que eu até esqueci... veio então essa última semana e ele apareceu sorrindo em alguma nova foto, de alguma rede social... A mente viajou em tudo aquilo que poderia ter sido e não se passou. O que seria de mim se eu tivesse ousado viajar para os céus do Jalapão?




quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

As Luzes dos fiats

Para Lucas e Luiza (para que um dia, vocês se encontrem)

As crônicas do dedo quebrado:
[34º. Dia]
Eu sabia, luzia em seus olhos castanhos, a dor de quem está do outro lado da linha. Eu sabia, pois era eu quem, até então, sempre estive daquele lado, o lado de lá, o lado onde o fim parece inexorável (e é).
Naquela segunda eu senti Luzia e sentia também Elias, sentia Luzia através de Elias. O peso no cardíaco, inevitável, os olhos cansados, sem motivos, os sorrisos, perdidos... todos perdidos. Ainda que sejamos sábios como Budas e digamos que não se deve sofrer quando não há o que se fazer, aquela mão enorme da existência pesa, bem ali, no centro do Ser. Seja por culpa ou pelo desespero do “nada poder se fazer”, afinal, não éramos Deuses?!
Sentia Luzia na sua dor de morte, o bailado sem ritmo, perdido entre as poças do asfalto, alaranjadas pelos últimos feixes de luz das lâmpadas de sódio iluminando os paralelepípedos da cidade baixa. A delicadeza dos passos de pés pequenos, de pernas rosadas e finas, a sutileza de uma bailarina torpe, ébria de vinho ou tequila, como quem diz: “danço porque não posso agora aceitar seu abraço de piedade, que falsamente dá a esperança que não me alcança”.
Luzia colocava óculos escuros para não me ver, via em meus olhos as sombras da morte, nunca vira olhos assim, além daqueles presentes na face de seu bem amado. Assustada, entrava em negação, plasmava realidades bem facejas, dos tempos em que a roda e a tenacidade dos dias, retornavam à sua alcova. Luzia disfarçava para Elias, mentia em regalias e simpatias, fingia que não se iludia... mas a mim não, eu a sentia através do coração de Elias e me doía, me dava insônia e euforias, lembrava-me dos tempos de Matias.
Luzia, mesmo nascida sob o Sol do conhecimento, se via perdida nas falas da existência e a sua palavra macia, dada às boas comunicações, estava perdida, como já estivera outrora. E ela buscava se apegar a isso: “já acontecera outras vezes... já acontecera muitas vezes”. Mas algo nela lhe dizia que dessa vez era inexorável, não por quem Elias dizia que sofria, mas por quem ele não dizia... mas por quem (ela sabia)... ele sorria. Eu sabia, pois já estive ali, do outro lado, do outro lado da linha, quando perdi Matias (amor de dor e alegrias) e apesar das negativas, das afirmações de amor irrestritas, eu via, do outro lado da linha estava Bia.
E eu, nada podia fazer, o Senhor do Tempo tocava seus gonzos: era chagado o momento dos magos se haverem e terminarem seu sacerdócio dos tempos da antiga Abicínia!





Créditos de Imagem: Leonid Afremov

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Preâmbulos de Poesia

Nos últimos dias tenho criado constantes realidades de bem estar contigo!!!
Está vindo tímido, sem jeito, agradecendo as possibilidades dos novos tempos, o sopro dos ventos nos sinos da aurora, o retorno dos dedos à viola.
Tem muita beleza nos redemoinhos de meus pensamentos, que se emaranham nas graças dos seus desejos.
Que nossos devaneios não sigam as regras das suas terras quase e possam aportar para o lado de cá, onde os céus são esparsos, as aves tão livres e o ar... cheira a baunilha no romper da madrugada.

Para Ben Cohen, da Terra do Quase





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