sexta-feira, 8 de março de 2019

Conto Magia Para o Nosso Sonho se Realizar

            - Oi!!! Oieee....
                (acena)
- Ei! Moço... olha aqui! Olha pra mim! Sou eu! ... Como assim você não sabe quem é? Você está aí me chamando há vinte anos, no mínimo, e agora não sabe quem eu sou? Eu sou a moça das suas canções, seus poemas, suas escritas, sua arte, aquilo tudo... aquilo tudo que tu tens sonhado. Ahn?! ... Ah tá... eu sei que tu achas fizestes uma canção pra Maria, outra pra Berenice, a outra pra Luzia, muitas muitas muitas canções para Giulia, mas ó, deixa eu te contar... tu não estavas apaixonado por elas quando as compôs? Então... explicando assim de maneira sucinta - abaixa o tom e cochicha perto do ouvido -: a gente sempre se apaixona pela gente mesmo, chama-se projeção, é verdade... o Siguiomundo quem descobriu isso. Sério! – balança a cabeça afirmativamente - Sério mesmo! Você é profundamente apaixonado por si mesmo, se chama arrogância isso, é por isso que a gente sempre tem uma certa timidez de escanteio, ainda que a gente disfarce ou tente disfarçar com a nossa aparente e descontraída irreverência.
-....
- Como que é possível você ter feito tudo pra mim se você às fez todas pra ti? Ahhh é... esqueci de explicar essa parte, desculpe! Primeiramente prazer - estende a mão -, eu sou você, quer dizer... eu sou você mulher. Tá, eu sei que é estranho mas é assim...
- ....
- Nááááá... nada a ver, alma gêmea, pfff... hahahah. Não é isso não, hahahaha. Alma gêmea é outra coisa, aliás, esse negocio de ‘carne e unha, as metades das laranjas, duas forças que se abraçam, dois amantes dois irmãos’ isso nem existe. Eu quero dizer que eu sou Você, eu sou você mesmo. Prazer... Eu Mesmo!
- *@#$%¨&
- Ai, credo, que horror!!! Calma! Não, não estou debochando de ti. Estou te falando que o seu sonho está aqui ó: na sua frente – acena – e que para ele acontecer, de fato... hum... você vai precisar sair daí...
- :’(
         - É... levanta do piano! Vem, enxuga as lágrimas... mas só enxuga quando tiver esgotado toda a vontade de chorar mesmo! Olhe menos pra baixo, seus ombros tem andado muito caídos porque olhas muito pro umbigo – ajeita o queixo – Não, também não levante tanto assim, não fique empertigado como um pássaro no cio – ri como uma garotinha – se ficar assim antes de aprender a voar vai tropeçar, cair e trombar com tudo que estiver pela frente. Olhe para frente, para os lados e mexa só o pescoço quando por acaso precisar olhar algo no chão ou no céu, assim poupará as suas costas de dores. Pronto! Está lindo assim: vês?! Eu não sou exatamente igual você se imagina caso fosse mulher?!: um pouco mais baixa, mas nem tanto, um pouco mais extrovertida por um lado e mais reservada por outro, a cor e o tamanho dos olhos, os cabelos iguais aos de sua avó, os dedos compridos de pianista, o corpo alongado, o jeito de se vestir e o tom de voz que você não alcança – risinhos abafados – os seios fartos, os quadris largos, o corpo de gestar, venha cá, abrace-me, abrace-se. Sente? Eu também estou do lado de dentro, percebe? Eu te acalento, dou colo, faço uma comida boa, te nutro, dou risada das suas piadas mais bobas, dou esperança de dias melhores quando o chão parece desabar, faço um chá de ervas frescas e sou macio travesseiro de repouso quando a sua cabeça parece não mais aguentar, seguro suas mãos nos dias de frio. Tu, não me sentes, mas eu estou aí, sempre estive, tu me imagina muito nos outros, sempre em outros tão tão distantes, outros dos horizontes perdidos. Daí, quando distraído estás, eu apareço com um trio elétrico, na sua frente, gritando pelos alto falantes minha poesia visceral. Te amas? Só me amas se te amas. Queres que eu saia dos seus pensamentos? Quer que eu volte de Xangrilá, do Butão ou da Sibéria? Então precisas me chamar, me convide para um chá, sirva-me iguarias de seu coração: as poesias de mansidão, livres do já fatigado dramalhão. Até agora eu escrevi, você não leu... eu falei, você não ouviu... eu cantei, você nem percebeu. Agora eu me despeço, volto com o chamado, no reencontro com seu sorriso. Deixo essa magia, para que nosso sonho não se perca em avisos, gritados pelo alto-falante, do carro da padaria.



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