Os
bailarinos, o Municipal
Os
pintores, o Louvre
Os
escultores, a Pinacoteca
Os
escritores, a ABL
Os
atores, a Globo
E
os cineastas, Hollywood
Acontece
que eu não sou aquilo que acham que eu posso oferecer, eu não sou aquilo que se
quer, ou que se almeja conseguir, eu não sou motivo do seu prazer, seu troféu,
estátua parada a esperar o seu destino, pegando pó e desbotando na estante. Eu
não sou as possibilidades distantes, a fonte dos encantos, eu não sou nada
disso. Então, não pense que eu possa ser um mar inesgotável de querer.
Pois
para ti que acha que eu vou te comprar, eu sou a música e livre como ela eu
vibro, balanço o ar entre intervalos de silêncio, eu inspiro quando saio
lavada das águas choradas nos rios dos meus sentimentos, não tenho notas em
cofres para te dar.
Para
ti, que acha que eu vou te selecionar, sem terdes de esticar suas pernas e dar
pulos em Grands Jetés, saiba que eu nem entendo muito de francês, para mim
basta o andar molengo de uma tarde de sol em um sábado preguiçoso, ritmado nos
passos dos meus pensamentos.
Tu
que achas que podes chegar e pendurar suas telas na minha casa, pedir pra
ficar, se esparramar no sofá, instalar suas barbas, jogar suas meias, deixar
aquela “obra” na sala de estar, já aviso: minha casa é templo e não museu,
todas as coisas aqui respiram presente e harmonia de bem com-viver.
Você,
que quer me esculpir a sua bel vontade, arrancar a minha costela, alisar as
minhas pernas, aplainar meu Eu Selvagem, saiba que da minha estrutura cuido eu
e que não, não sobra espaço para o seu formão.
À
ti, que queres tanto que te faça poesias, que te crie em versos, prosas e
rimas, que te ceda redondilhos carregados de paixão entre tantos outros
arroubos literários de amor pela tua criação, como pensas que ainda terei
inspiração se não és capaz de me oferecer, nem um haikai em um papel de pão?
E
agora tu, que me mente nos dias úteis e me ilude aos finais de semana... Que
finge um profundo amor repleto de desejo, drama, sofrimento e encenação. Como
esperas que essa sua novela, parca e singela, brote de seus olhos e perfure a
tela do meu calejado coração?
Por
fim, você que me filma e não diz nada, que dirige a cena por de trás de seu
olhar blasé, que te incomoda ver meu braço mais caído para o lado errado, que
deseja controlar tudo do outro lado do mundo, pela tela do seu computador. Para
ti, querido, sendo bem real, eu nem sequer existo, logo, desisto de seu amor,
que não valeria nem ao menos um Kikito.
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