quarta-feira, 17 de maio de 2017

Divagações Afetivas

Olá, nessas próximas linhas eu vou escrever sobre Amor, não sobre amor, ou AMOR, é sobre o Amor mesmo, esse com o “A” maiúsculo alegorizante, ou seja, o Amor dos poetas, esse amor que se confunde com êxtase, com paixão, que dói, dá embrulho no estômago e que faz você pensar que é bipolar, depressivo, tem transtorno bipolar ou é esquizofrênico. Esse amorzinho clichê mesmo, que passa nas comédias românticas, nas novelas, nas trovas de amor e de amigo, nos romances de Castro Alves, nos contos de Vinícius de Moraes, nas canções do Clube da Esquina, nos filmes de drama e de comédia romântica.
            Então “mon ami”, AVISO IMPORTANTE, se você está nessa de negação das influências que a cultura pequeno-burguesa-judaico-cristã-ocidental possa ter na sua vida em termos de Amor, melhor nem começar a ler... Se você tá nessa de amor livre, de desapego, de não criar expectativas, de super empoderamento de si, de curtir o momento, de precisar estar com alguém sempre a todo momento (ou quiçá alguéns?!), de desconstruir padrões socialmente impostos de “amor”, de achar que nova MPB (com arranjo de banjo) é uma merda, que não aguenta mais sessão da tarde e que vinho com lareira em Urubici ao som de Billie Hollyday é piegas demais, queride, melhor parar por aqui, porque o que eu vou falar é justamente sobre esse “monstro” criado pela sociedade burguesa, o tão temido “amor romântico”, haaa... e não pense que será em tom de crítica, mas... de profunda empatia e compreensão por ele, até porque, habitantes desse lado do meridiano de Greenwich, eu, como vocês também fui “construída nessas bases”.
            Nesses últimos tempos tenho sido questionada (e muito) sobre não estar em uma relação há tempos, aliás, por não estar em nenhum tipo de relação. As pessoas me perguntam que como, em um lugar com tantas possibilidades de encontros, com tanta gente bonita, com tantas propostas, tanto flerte, tanta gente interessante interessada, tanto de tudo dentro desta esfera eu optei por estar... digamos: celibatária.
            Não, não é falta de libido; também não é por não desenvolver uma relação empática de amor (fraterno) pelas pessoas interessantes interessadas; muito menos por não querer estar com alguém. Eu quero estar com alguém, mas o grande problema é que faço a linha romântica devotada incorrigível, o bom é que, pelo menos agora, saber disso e ser assim não me faz mais sofrer.
            Estar solteira e sozinha por opção tem lá suas razões e talvez isso ajude a entender a natureza dos românticos, ou das pessoas que não necessariamente acreditem em alma gêmea, mas que querem estar por completo com alguém (e isso inclui devotar sua arte e seu modo de criação também e principalmente com aquele com quem se está junto), românticos amam profundamente as formas de existência e por conseguinte querem partilhar esse brilho que enxerga em todas as coisas com o ser amado e logo, o romântico também gostaria que esse encantamento fosse não só visto, mas também sentido, a grande busca do romântico por consequência é partilhar as suas buscas, dividir seus encantamentos com aquele que também se encante. A questão é que o romântico busca isso no outro também e na grande maioria das vezes ele não encontra e então, por consequência, ele se frustra. O romântico consegue superar essa forma de ação auto-destrutiva quando ele aceita a sua natureza e ao mesmo tempo ele aceita o tempo da espera, da chegada, quando o ato de auto-indulgência do romântico se converte em um ato de fé.

            Assim, ser romântico pode também ser leve, e (por quê não?) possível nesses tempos “líquidos”, se transformarmos nossos desesperos e quereres em aceitação (aceitação de que pode doer, criar expectativas, apegos e frustrações; mas que isso também vai passar) e a nossa vontade em fé, amando muito aquilo que se é.


Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails