segunda-feira, 2 de junho de 2008

(continuação - Viagem à Fofolândia) O Campo das Paixões

...Meus olhos se arregalaram mais ainda...
_ Como assim a Alice verdadeira? Por algum acaso aquela loura lá é falsa?
_ Não Dna. Azul, nada disso, eu apenas sou a Alice que foi legitimamente apresentada ao Sr. Dodson.
_ Pera, pera, pera lá! Que história é essa de me chamar de Dna. Azul? E esse tal de Sr. Dodson, quem é? Onde entra o Lewis Carrol nesse rolo todo?
Alice suspirou profundamente e respondeu pacientemente:
_ Bem, o Sr. Dodson, ou melhor dizendo para você que é brasileira, Charles Lutwidge Dodson e o Sr. Carrol são a mesma pessoa, um é pseudônimo do outro, quer dizer, o outro é pseudônimo do um, mas não importa, pegue um balde d'água para aquecer-se. Quanto ao Dna. Azul, certamente você entenderá quando chegarmos ao Vilarejo das Letras. Mas não nos apressemos.
_ Balde d'água para aquecer-me? Tá, tá, não vou nem questionar, nessa casa doida tudo é possível.
Fui caminhando em direção para onde eu acreditava ter cozinha, baldes e água.
_ Ah, aproveita que você vai pra cozinha e pegue um copo de suco de melão da torneira e hum... se quiser, pegue gelo dentro forno e me traga uma caneca de café fumegante, ok?
_ Deixe-me advinhar, o café está na geladeira, certo?
_ Certíssimo! - disse-me Alice com um sorrisinho maroto.
Voltei com o balde vazio pendurado no braço, o copo em uma mão e caneca em outra. Entreguei a caneca à Alice e fui até a porta encher o balde de água. Ao voltar perguntei:
_ E agora? Como faço para aquecer-me? Mergulho dentro dele?
_ Não seja tola Kin, só jogue essa água na lareira e pronto.
Assim o fiz e imediatamente labaredas de todas as cores começaram a dançar pela lareira.
_ Divinamente encantador! - exclamei estupefata - E como aquece gostoso... Não queima e é super acolhedor, como um abraço de mãe.
_ Sim, sim, essas labaredas sapecas são as melhores para desavisados que não sabem abrir uma porta sutilmente e para aventureiros que preferem vir pelo caminho do rio. Verás, em instantes estarás seca.
Dito e feito, em pouquíssimos minutos estava seca.
Alice levantou-se e disse toda serelepe fechando o livro e dando pequenos pulinhos:
_ Vamos?
_ Vamos para onde? - perguntei.
_ Oras, re-conhecer a Fofolândia, ainda tem muito que re-ver , re-aprender e re-descobrir.
_ Re?
_ Sim, RE! Você re-entenderá, não se preocupe, não tem graça saber o password da fase final na primeira jogada.
_ Ok, ok. Você que fique com as honras da casa, mas hum e o copo? Tenho que lavar lá na cozinha.
_ Lavar com o que? Suco de melão? - Alice soltou uma gostosa gargalhada - Deixe esse serviço por conta do garçom.
Mal tive tempo de formular qualquer pergunta e uma bandeja surgiu flutuando em minha frente , convidando-me para depositar o copo sobre ela.
Alice abriu a porta e foi caminhando para fora da casa em direção à um belo caminho ladeado por coloridas flores rasteiras e belas árvores frondosas.
Perguntei:
_ Onde vamos Alice?
_ Ao lugar mais encantador daqui, porém restrito à poucos.
_ Oh - me exaltei toda orgulhosa - e eu terei esse privilégio?
_ Não sei, depende só de você conseguir entrar.
_ Hum, tem algum tipo de teste? Alguma prova? Senha? Charada? Enigma? Desafio?
_ Nada disso, é um lugar restrito aos puros de coração e aqueles que realmente sabem amar.
_ Hahahaha - não me contive e soltei uma sonora gargalhada - isto está mais para contos da Carochinha do que para país das Maravilhas.
_ Bem, primeiro que aqui é a Fofolândia e não o País das Maravilhas, depois que a Carochinha é uma barata mentirosa muito da sem graça que nunca conseguiu entrar na Praça dos Amores, foi expulsa daqui e teve o visto cancelado por tempo ad eternum por contrabandear nossas nativas taboas fumadoras para a Terra do Nunca.
_ Ahá! Então é para lá que nós vamos: a Praça dos Amores.
_ Sim, um lugar muito difícil de entrar, você verá.
Após uns dez minutos de caminhada o lindo caminho terminou. Na frente apenas havia alguns pés de taboas espalhados, deles saia um cheiro forte de fumo, cada um com um aroma diferente, alguns muito bons, de menta, cravo e canela, outros com um terrível cheiro de poluição.
_ Quer uma? - perguntou-me Alice com um ar convidativo - Para acendê-los é só estalar os dedos.
_ Oh, não obrigada, eu não fumo.
_ Menos mal, tem quem delire com essas taboas fumadoras, muitos que chegam até aqui resolvem se deitar entre elas e ficam eternamente fumando-as e apreciando o inconstante colorido do céu. Ah, por falar nisso, cuidado para não pisar em ninguém.
Por entre as taboas haviam pequenos arbustos frutíferos e umas espécies de coqueiros estranhos, com frutos transparentes com conteúdos líquidos e coloridos, viam-se algumas pessoas sorridentes subindo nessas pequenas árvores e jogando seus frutos para outras que os recolhiam satisfeitas.
O conjunto de toda aquela paisagem era magicamente encantador, de um colorido psicodélico, ao entrar no campo ouvia-se a mais bela e emocionante música que pode-se imaginar, algo impressionante e absolutamente tocante, lágrimas de felicidade vieram-me aos olhos, jamais vira algo tão belo, era um campo enorme que se espalhava por todas as direções, borboletas de infinitas cores voavam entre as plantas, casais se beijavam e se abraçavam ternamente, alguns saltitavam de mãos dadas, falei extasiada:
_ Ora Alice, isso é lindo, não vejo dificuldade nenhuma em entrar aqui!
_ E quem te disse que essa é a Praça dos Amores?
_ E não é?
_ Claro que não, pare de ser boboca, seria muito fácil se fosse assim, já viu algum Amor que deixe as pessoas tontas?
_ Bem, essa é a idéia, não?
_ Tolinha, nada disso. Tens muito que descobrir, bem, logo mais chegaremos à Zona da Loucura, que é a última barreira para a Praça dos Amores, mas não mais difícil de superar do que isso aqui.
_ Mas Alice, não vejo perigo nenhum "nisso aqui". Tem belas árvores frutíferas, e inocentes borboletinhas diáfanas e coloridas.
_ Hahaha - Alice caiu na gargalhada - Belas árvores frutíferas? Fala dos coqueiros etílicos, dos pés de estrelinhas doidonas ou dos arbustos de doçura serena? Inocentes borboletinhas? Você sabe o quão terríveis essas borboletinhas podem ser?
_ Nem imagino.
_ Essas borboletinhas, ou melhor : Egopídos, soltam um pozinho invísivel aos olhos humanos que faz você se apaixonar pela primeira criatura que te fizer um elogio seguido de um "Eu te amo". A música, bem, a música é efeito do devaneiol que é solto pelas taboas que estão sendo fumadas, ela é diferente para cada pessoa, eu por exemplo, escuto a Marcha Turca do Mozart.
_ Mas hum, que lugar tão "terrível" é esse.
_ É o Campo das Paixões. Parece infinito, não?
_ Ahn Han - consenti com a cabeça.
_ Não possui nada mais do que alguns poucos metros quadrados.


(continua...)

Um comentário:

Anônimo disse...

Re-genial. O Carrol deve estar roendo as unhas de inveja.

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