sábado, 5 de abril de 2008

Desboquiaberturas

“Ele não ousou lhe antecipar a notícia. Assumiu uma atitude tão infantil diante da situação que fingia falsos rancores e ressentimentos imaginários, procurando um modo de ser Petra Cotes quem provocasse o rompimento. Um dia que Aureliano lhe fez uma censura injusta, ela descobriu o jogo e pôs as coisas no seu devido lugar.” Cem anos de solidão - Garcia Marques

As nossas cópias tão baratas de eternidades históricas fazem da sua retórica qualquer tolice falsa e hipócrita, como deveria ser para um parvo como o próprio diz: ‘desprovido de sentimentos’, então, certamente estas poucas palavras, que muito bem poderiam ser transfiguradas para uma trova de mal dizer, não te abalarão tão pouco mudará as cousas.
Mas volto à idéia de que és Pinocchio e sou a fada azul que matastes menina, e teimosamente insiste em viver para aplacar suas travessuras. Diga-me (não dirás!) por quê vens a mim derramar as lágrimas dos dias em que ela te ignoras, depois muito malemolente, ela suplica, aos seus modos judeus, dizendo do pouco valor que tem, reconhecendo a sua raquitice psicológica e seus maus traços congênitos? E daí apieda-se, não dela, mas de ti mesmo, que vê na criança mimada seu próprio espelho, e ama-se, mais intensamente. Ó Narciso, queres o mal porque nele se regozija de seus defeitos e para aplacá-los tenta enfeitá-los de bondade, sem sucesso, obviamente, já que és o único capaz de apreciar o corcunda, esse, infelizmente, desprovido da doçura do outro.
Vens depois fingindo uma mágoa qualquer, teorizando sobre coisas que querias transformar em nefasto, mas somente assim serão para ti e para os teus, pouquíssimos, que compartilham de seus prazeres, porque o belo, assim o é, e nada poderá fazer para destruí-lo, nem com as suas fracas palavras pomposamente agressivas.
Inveja jorra dos teus olhos quando parolas. Terei de vestir o manto negro da amargura? Para que? Para que apiede-se? Jamais, jamais te apiedarás daquilo que desejas com amor e ódio, ah, perdão, não sentes, né? Só que não acreditam, sinto muito, aquela que queres que acredite em teus profanos sentimentos e que responde a tudo taciturna, calada e que ousa dizer calúnias e grosserias em troca às suas gentilezas, não acredita. Inveja a única coisa bela que viu no desterro em que vives com os teus. Viram, os alguns ali presentes, a manifestação plácida do Amor, e de suas memórias acuadas pelos fluidos tóxicos que corriam pelos seus corpos, jamais conseguirás arrancar a presença nobre e sublime daquele que cura e salva dos maiores perigos.
As suas 3974 mentiras não me convenceram e não convencerão a mais ninguém, se crês que tens o poder da palavra persuasiva, mais outro ledo engano seu, ninguém, nem aquela que crês ser a mais doce, nobre e diáfana criatura terrena, acredita. Lembre-se, seu nariz de pinho denuncia seus carapetões.

“Aureliano Segundo, envergonhado, fingiu um ataque de raiva, declarou-se incompreendido e ultrajado, e não voltou a visitá-la.” Garcia Marques

Um comentário:

Unknown disse...

Cousas, coisas...
Que coisa, viu !!!!!!

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