domingo, 13 de setembro de 2009

"Live and let it die"

Não dá pra ser poético, alegre, vivaz, saltitante o tempo todo. Não dá para se render à "smile culture", simplesmente Não Dá!
Dá para tentar ser suave, amena, sim, isso dá.
Velar as dores, assim como os mortos, com as lágrimas escorrendo pra dentro, inundando o estômago, atingindo o coração, estravazando pelas orelhas.
A tentativa frustrada do "deixai passar", tavez se resolva com alguns benzodiasepínicos.
Não se resolverá, apenas será enterrada em vida e servirá de adubo para a cecóia que está por vir.

3 comentários:

Patrícia disse...

"Eu poderia contar gemeamente duas histórias: uma afro-
carnívora, simbólica, a outra silenciosa, subtil, japonesa. De
cada uma delas acabariam por decorrer um tom e um tema.
A história carnívora foi colhida algures, de leitura, e respeita
uma tribo que sepultava os seus mortos no côncavo de
grandes árvores. As árvores, a que tinham dado o nome do
povo: baobab, devoravam os cadáveres, deles iam urdindo a
sua própria carne natural. Pelo nome tirado de si e posto na
alquimia, a tribo investia-se nas transmutações gerais: a morte
levava o nome, e o nome, activo e tangível, crescia na terra.
Emocionam-me a fome botânica e o triunfo das copas, o
empenho tribalmente mágico, regrado pelo insondável
entendimento das metamorfoses da carne no esquema
orgânico da matéria."

uma estória do Herberto Helder.

Unknown disse...

"Penso que deve existir para cada um
uma só palavra que a inspiração dos povos deixasse
virgem de sentido e que,
vinda de um ponto fogoso da treva, batesse
como um raio
nos telhados de uma vida, e o céu
com águas e astros
caísse sobre esse rosto dormente, essa fechada
exaltação.
Que palavra seria, ignoro. O nome talvez
de um instrumento antigo, um nome ligado
à morte – veneno, punhal, rio
bárbaro onde
os afogados aparecem cegamente abraçados a enormes
luas impassíveis.
Um abstracto nome de mulher ou pássaro.
Quem sabe? – Espelho, Cotovia, ou a desconhecida
palavra Amor."

Herberto Helder

tenho muitos nomes ligados a morte: tem vezes e muitas que só posso responder por Perséfone e permanecer longos tempos no mundo inferior em contato com as vozes dos meus mortos, outras Isis construindo barcas para levar os pedaços de Osiris-eu, muitas vezes permaneço no lamento de Démeter.

Patrícia

Larissa disse...

a Patrícia podia ir comentar no meu blog também!

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