Fraqueza & Sedução

Caríssima, onde você estava com a cabeça, quando a dourada, veio feito serpente cosmológica, com doces palavras te dizer: “Minha filha, aproveite que seu pai está disposto e feliz, não faça isso, fique aqui, ele está tão feliz, mas tão feliz, você vai deixa-lo muito magoado. Faça a vontade dele. Fique aqui minha filha, olha, ele vai te dar tudo. E você vai faze-lo feliz, e teremos paz na família”. Filha maldita de Lúcifer, o diabo teima em se manifestar das mais diversas formas na minha vida, umas descaradas, cheirando a enxofre e tudo mais, outras sutis, parecendo cheia de amor, mas no fundo embotada do mais vil egoísmo e manipulação, maldita cobra velhaca.
Então, para dar a tal paz para a família precisei construir raízes, raízes pra não enlouquecer, porque a paz para a família custaria a minha própria. Precisei fazer aquilo que abdiquei durante toda a minha vida até então, precisei me dedicar às paixões, elas seriam as raízes que me sustentariam aqui enquanto me dedicava à “paz da família”. E foi aceito, a contra gosto, mas aceito, afinal, é tudo barganha para aqueles que detêm os meios de controle. E agora se me lamento, se ouso pensar (apenas pensar; o ato em si é desnecessário) em chorar, serei invariavelmente desmoralizada ora pela cobra velhaca ora pelo censor da paz, o discurso: “Ahhh, minha filha, quem quis isso foi você, você poderia estar lá, bem longe. Vai pra lá. Por que você não vai pra lá agora? Você pode ir?”
Posso ir? Como posso ir? Depois de todas as ervas que plantei para sobreviver as vossas presenças. Não, não posso ir, vocês sabem que eu não sou vermífuga insensível, pedra de silar ao redor da boca de vulcão, sei de todos os “sacrifícios” que fizeram para que tudo acontecesse conforme a vossa vontade, maldita Eva que se deixa seduzir, mentecapta, isso é que sou, depois que mordi do seu fruto, estou presa aos seus galhos por tempo indeterminado!