segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Da Bondade ou Maldade dos Homens

Dizem de São Paulo, capital das mentes alienadas, da indiferença, da sujeira e da desumanidade. É claro, também dizem ser capital da gastronomia, centro financeiro do país, berço da cultura e O lugar das oportunidades. Em meio a essa ordem desordenada uma garotinha chorava desesperadamente no banco de uma praça muito grande e aparentemente deserta. Qualquer alma, paulistana ou não pensaria: 'Pobrezinha, certamente ninguém se apiedará dessa garota em prantos nessa fossa de indiferentes'. Para o observador distante, atenha-se.

Um jovem, moreno de olhos verdes (primeiro passante) com ar de serenidade aproxima-se da garota e delicadamente lhe toca os ombros e pergunta se está tudo bem, ao que garota com a cara inchada e vermelha responde descaradamente: 'Ahan, sim, tá tudo bem' , o rapaz pergunta se ela precisa de ajuda ela nega com a cabeça, ele se afasta e fica a observá-la de longe. A garota deita-se no banco e começa o choro desesperado de novo. Eis que passa uma senhora (segundo passante) com um xou-xou ruivo senta-se ao lado da menina e começa a acariciar-lhe as costas, assim como o primeiro, pergunta o que se passa, a menina emudece e só chora, mais e mais. A senhora é persistente e fica ali, o jovem que estava longe, receoso de tentar uma nova abordagem, aproxima-se lentamente e senta-se do outro lado da garotinha. A menina que até então permanecia envolta pelas lágrimas, nota o xou-xou e começa a chorar ainda mais, a senhora ao perceber que o seu mascote havia provocado a intensificação do pranto pergunta: "Tens um anjo?" A menina se desespera e conta aos dois estranhos a sua trajetória até ali, que morava em um jardim e que chegara até aquela cidade a procura do seu anjo, que caiu do céu e quebrou as duas asas, só que o tal anjo espuleta, não queria as ataduras da menina, dizia que o remédio para os curativos ardia, que iria dar um pulo no Rio Pinheiros e que mais tarde voltaria, só que passaram-se três dias e o anjo não voltou. Contou também que o anjo a esqueceu plantada em seu jardim e nunca mais a protegeu. Então ela foi até aquela praça, que a remetia ao seu lar e que ali suas lágrimas poderiam até fazer florir qualquer coisa, disse também que o xou-xou só intensificara seu choro pois seu anjinho tinha certa paixão por esse tipo de cão.

A Senhora sorriu, acariciou os cabelos da menina e disse: "Querida, você é tão linda, se continuar a chorar a sim, derreterá e não terá forças nem para si, muito menos para cuidar do seu anjo. Volte para o seu jardim, mas não desista do seu anjo, não sabes o que pode ter acontecido para que ele ensandecesse, vá, se refaça e assim que se recuperar cuide do seu anjo...Ah, e quando estiverem bem, voltem para esta praça, ele gostará de conhecer meu xou-xou".

A menina serenizou, voltou para o seu jardim e as pessoas que passaram por ali não viram as luzes que se confundiam com as que abrilhantavam São Paulo inteira.

Um comentário:

Procopio e Ermenegilda disse...

Subitamente fantástico, a-do-rei. O que posso mais dizer?

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